Indígenas reivindicam há 15 anos universidade própria como reparação histórica

A narrativa histórica tradicionalmente atribui a Pedro Álvares Cabral a descoberta do Brasil em 1500, mas essa versão ignora a existência de mais de 300 povos indígenas que já habitavam o território. Em busca de reparação histórica e uma educação mais inclusiva, o movimento dos povos originários reivindica a criação de uma universidade indígena, visando transformar o modelo colonizador e eurocêntrico do ensino.
A proposta da universidade indígena, que remonta à primeira Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena em 2009, ganhou impulso no atual governo do presidente Lula (PT). Após um período sem avanços, o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena solicitou uma audiência com os ministros da Educação e dos Povos Indígenas, Camilo Santana e Sônia Guajajara, respectivamente, para discutir a criação da instituição.
O Ministério da Educação (MEC) se comprometeu a efetivar a proposta e atender outras demandas do movimento, como a criação da Secretaria Nacional de Educação Escolar Indígena, focada na gestão do ensino de base nas aldeias e no acolhimento de estudantes indígenas em escolas urbanas. A iniciativa já havia sido debatida durante o governo Dilma Rousseff (PT), mas a prioridade na época era consolidar programas de acesso e permanência de estudantes indígenas no ensino superior.
O MEC planeja instituir um novo grupo de trabalho com representantes dos povos indígenas, do governo federal e de reitores de instituições de ensino superior para criar e implementar a universidade indígena. A formação superior é vista como fundamental para que os povos indígenas compreendam a complexidade do mundo e lutem por seus direitos, territórios e a preservação de seus modos de vida.
A universidade indígena, com sede administrativa em Brasília e campi nas cinco regiões do país, pretende valorizar as línguas indígenas e a ciência ancestral, além de destacar o papel dos povos originários no enfrentamento da crise climática. O movimento estudantil indígena defende uma educação "do nosso jeito", que promova e valorize os saberes e sistemas de conhecimento indígenas.
A reivindicação pela universidade indígena tem sido destaque no Acampamento Terra Livre, a maior manifestação dos povos originários da América Latina. A União Plurinacional dos Estudantes Indígenas (Upei) celebra conquistas como a ampliação da Bolsa Permanência e a criação do Instituto de Pesquisadores Indígenas, e destaca a importância da universidade indígena para fortalecer o movimento e trazer novas formas de ensino e currículos que reconheçam as epistemologias indígenas.