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O charme tem endereço em Salvador: Baile Charme une gerações e propaga cultura negra na capital baiana

Publicado em 14/09/2024 às 03:01:57
O charme tem endereço em Salvador: Baile Charme une gerações e propaga cultura negra na capital baiana

Charme. Palavra com origem francesa que descreve aquilo que atrai ou dá prazer aos sentidos. Na dança, o termo tem o mesmo significado e descreve a manifestação cultural típica do Rio de Janeiro, que tem como característica as coreografias em grupos e os passos puxados para o R&B, hip hop, funk, swingbeat, e outras vertentes da música negra.

Foi do encantamento com a coreografia sincronizada e da necessidade de aquilombar, que nasceu o famoso Baile Charme nos anos 80, sendo o mais conhecido o que acontece no Viaduto de Madureira, na Cidade Maravilhosa, onde se tornou patrimônio cultural.

Na cidade da mistura de ritmos e povos, o Charme não ficaria de fora. Em Salvador, o Baile Charme passou a ganhar espaço e público, ainda que de forma discreta nos tempos atuais, e tem feito a cabeça de jovens dos anos 90 e 2000 e proporcionado a união de gerações.

A capital baiana recebe neste sábado (14), a 8ª edição do Baile Charme Salvador, no Restaurante Uauá, no Pelourinho, e em entrevista ao BN, Iyalorixá, gastrônoma e a produtora cultural Alice Walê, de 27 anos, idealizadora do evento, falou sobre a história do projeto, que nesta edição homenageia Ludmilla.

Foto: Arquivo Pessoal

“O Baile Charme Salvador surgiu devido a falta de eventos para o povo preto na cidade, a falta de eventos com outros estilos de música, de projetos que resgatasse a nossa ancestralidade, e a partir disso, com um grupo de amigas, pensamos em criar o Baile Charme. A gente já observava o Baile Charme de Madureira, e tinha um planejamento de viagem para conhecer o evento, só que chegou um momento que a gente parou para entender que isso também já fazia parte de Salvador, e que as pessoas aqui que já curtiram isso há muitos anos, nas favelas, nas quebradas. A partir disso a gente foi se comunicando com pessoas que a gente já conhecia e que poderiam nos ajudar nesse caminho, e na terceira garrafa de vinho eu já tinha Instagram criado para a festa”, conta Alice.

O estilo de dança sincronizado realmente já tinha desembarcado em Salvador, até mesmo na mesma época em que o Charme explodia no Rio. Porém, na cidade do pagode e do axé, o impacto da coreografia em conjunto ao som de um lento R&B não tinha o mesmo impacto que o swing do Gera Samba, por exemplo.

A própria Alice, por exemplo, conta que só foi ter um contato mais profundo com o Charme depois de mais velha, mesmo ouvindo a Black Music desde pequena. “Eu fui conhecer mais a fundo o Charme quando eu decidi fazer o evento. Ouvia R&B, hip hop, ouvia muito Black Music desde pequena, sempre dancei também, fiz parte da Funceb, mas a paixão pelo Charme veio depois e acho que foi algo muito natural essa conexão, porque é parte da minha cultura. Foi algo da minha mãe, minha vó também curtia os bailes da época dela”, afirma.

Entre os passos básicos que passaram de geração para geração, estão os steps, que consiste em levar o pé para frente e para trás, para um lado e para o outro; o shuffle, que consiste em arrastar o pé; o balanço do corpo; o trançado, quando se cruza as pernas; e os slides, isto é, arrastar os pés de um lado para o outro até juntá-los novamente.

As informações são do Sindicato dos Profissionais de Dança do Estado do Rio de Janeiro. Com a evolução da dança, a nova geração incorporou outros elementos, mas é na pista que todos se encontram e se sincronizam. Desde os mais novos na brincadeira aos mais velhos, que passam a tradição para os "novinhos".

Foto: Flávio Saan

“É gratificante conseguir reunir tanta gente através da música, da dança, de gerações diferentes. A gente já teve convidado no baile de 80 anos. Foram pessoas que chegaram para falar que o Baile conseguiu trazer aquela energia que eles já não viviam há muito tempo. O Charme ficou uma coisa mais do Rio São Paulo e Salvador não conseguiu manter a frente porque a capital tem uma dificuldade enorme em reconhecer coisas que não sejam apenas pelo financeiro.”

Para a produtora cultural, além da dificuldade na questão do ritmo, o Charme não teve tanta força em Salvador nos anos anteriores por ser algo das favelas. “Se tornou uma coisa mais oculta, por conta da violência na quebrada e da dificuldade em realizar muitos eventos da forma correta para todos os públicos”, pontua.

O cenário, apesar de ser um pouco diferente do encontrado lá atrás, com mais acessibilidade para o público, ainda é complicado, afirma Alice. O Pelourinho foi o bairro a abraçar o Baile Charme Salvador e receber as edições da festa, desde a 1ª até a 8ª.

“E inicialmente a gente encarou isso como um balde de água fria, porque não conseguimos um local para fazer o evento. A gente reconhece que ainda é uma dificuldade conseguir espaço em Salvador para fazer evento de menor porte, evento voltado para a comunidade preta, LGBTQIAPN+, que seja acessível para um público com grana baixa. Hoje, infelizmente, tem na nossa quebrada a marginalidade, que nos limita muito de fazer eventos culturais, né? Eu não sei que seja apoiado por eles, mas aí a gente resolveu levar o baile para o Centro Histórico, que é um lugar ancestral, lugar de música preta, é o verdadeiro Projac baiano.”

Atualmente, o Baile Charme Salvador conta com a produção de Walê e o apoio de outras 11 pessoas para acontecer. “Atualmente a gente tem 11 pessoas fixas que são essas pessoas que trabalham todos os bailes, que vai de DJ, a mestre de cerimônia, aos dançarinos e embaixadores. O Baile é um evento que começa na internet, para criar a curiosidade e o interesse do público e todo nosso lucro é dividido”.

Para a produtora cultural, a união faz a força, em especial, entre o povo preto e é algo que precisa ser entendido em sua essência para que a cultura se fortaleça. “Ainda tem uma dificuldade de entender que quando cresce uma pessoa no nosso meio é para somar e não para competir né, tem uma desunião”, afirma.

Foto: Baile Charme Salvador

Porém, apesar dos pesares, Walê acredita no crescimento não só do Baile Charme como de outros projetos que valorizem a cultura preta em Salvador. “O Baile ele foi criado para ser um projeto com a possibilidade de ser inserido em outros eventos, recentemente a gente foi convidado para participar do Numanice, e a nossa proposta vai ser sempre colocar a nossa cultura em destaque, pessoas que não tiveram essa oportunidade em um outro momento, ter ali, naquela hora”.

Na edição deste sábado (14), o Baile Charme Salvador contará com a participação do DJ Hendo, diretamente dos Estados Unidos, que promete levar para o Restaurante Uauá o melhor do mix entre o afrobeat, afro house e hip-hop com batidas tradicionais e contemporâneas.

A festa ainda contará com os sets da DJ Belle e do residente ALLEXUZ95, membro do coletivo TrapFunk&Alivio, que tem se destacado no cenário musical com um setlist de formato aberto, que envolve ritmos como black music, R&B/Charme, e ritmos afro-latinos.

SERVIÇO
Baile Charme Salvador 8ª Edição (Especial Ludmilla)
Quando: 14 de setembro, às 22h
Onde: Restaurante Uauá, Pelourinho
Quanto: R$ 30, no Sympla







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