Dino quer ouvir Congresso sobre cumprimento da decisão que derrubou orçamento secreto
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), abriu prazo de 15 dias para que os presidentes da República, da Câmara e do Senado se manifestem, caso queiram, sobre o cumprimento da decisão da Corte que barrou o chamado "orçamento secreto".
O despacho do ministro é de quinta-feira (18). O magistrado também intimou o PSOL para se manifestar. O partido é um dos autores das ações que levaram o Supremo a declarar inconstitucional o sistema de uso das emendas de relator.
De acordo com a CNN Brasil, Dino herdou as ações sobre o tema da ministra Rosa Weber, que se aposentou em outubro. A abertura de prazo para as manifestações se deu depois que entidades enviaram uma manifestação no processo afirmando existirem "elementos que configuram a persistência do descumprimento da decisão" do STF.
O documento foi assinado pela Associação Contas Abertas, a Transparência Brasil e a Transparência Internacional - Brasil. As três participam das ações sobre o orçamento secreto como "amigos da corte", podendo colaborar com o envio de informações.
Segundo as entidades, o descumprimento da decisão se daria por:
Uso "indevido" de emendas do relator-geral do Orçamento para inclusão de novas despesas públicas ou programações no projeto de lei orçamentária anual da União";
Uso das "emendas PIX" (emendas individuais na modalidade transferência especial) pela "alta opacidade" e "baixo controle";
Descumprimento da determinação de publicar informações relativas à autoria das emendas RP 9 (emendas de relator) e à sua aplicação".
Conforme as entidades, esses fatores "tendem a se manter ou mesmo piorar", considerando a atual fase do planejamento orçamentário para 2024 no Congresso, "aprofundando ainda mais as violações à ordem constitucional e exigindo providências a curto prazo".
DERRUBADA
Em dezembro de 2022, o STF declarou, por 6 votos a 5, a inconstitucionalidade das indicações de despesas por deputados e senadores para o chamado orçamento secreto.
A decisão seguiu o voto da presidente Rosa Weber, relatora das ações, ajuizadas pelo Cidadania, pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e pelo Partido Verde (PV).
Em seu voto, a relatora afirmou que as emendas de relator violam os princípios constitucionais da transparência, da impessoalidade, da moralidade e da publicidade por serem anônimas, sem identificação do proponente e clareza sobre o destinatário.
O sistema foi alvo de críticas pela falta de transparência e por beneficiar somente alguns congressistas. O destino dos recursos era definido em negociações entre parlamentares aliados e o governo. Justamente por isso, se tornou - durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) - moeda de troca entre o governo federal e o Congresso Nacional.