Brasil se arma para retaliação ao tarifaço, mas plano é insistir em negociação com EUA

Diante das tarifas adicionais impostas por Donald Trump, o governo Lula se prepara para uma possível retaliação comercial, mas prioriza a negociação com os Estados Unidos para reverter as barreiras ao aço e alumínio brasileiros.
A estratégia governamental se divide em duas frentes: sinalizar publicamente a capacidade e disposição de retaliar, caso necessário, e avaliar o impacto real das tarifas nas exportações, buscando oportunidades e insistindo em negociações bilaterais para estabelecer cotas de vendas de aço e alumínio.
O setor metalúrgico é considerado crucial, com US$ 3,5 bilhões em produtos semiacabados de ferro ou aço exportados aos EUA apenas em 2024. O Brasil argumenta que exporta material semiacabado e é um grande comprador de carvão metalúrgico americano.
O Instituto Aço Brasil defende a via diplomática para restabelecer o acordo de cotas de exportação, que previa isenção de tarifas e expirou recentemente.
A postura nos bastidores busca ser mais moderada, contrastando com o discurso de Lula, que exige reciprocidade e garante que o governo tomará medidas para defender empresas e trabalhadores brasileiros, amparado pela lei da reciprocidade e pelas diretrizes da OMC.
O vice-presidente Geraldo Alckmin reforça a prioridade no diálogo e negociação, mesmo reconhecendo a legislação que permite retaliação, enfatizando que "ninguém ganha numa guerra tarifária".
Fontes do governo indicam que as negociações já surtiram efeito, resultando em tarifas menores para o Brasil em comparação com outros países. A estratégia em Washington focou em ressaltar a baixa tarifa efetiva aplicada pelo Brasil a produtos americanos (2,7%) e o superávit comercial americano em bens e serviços com o Brasil nos últimos 15 anos.
O governo busca agora analisar as informações dos EUA e dar sequência às negociações para dimensionar o impacto das medidas, antes de contra-atacar. Especialistas avaliam que a tarifa anunciada representa um "alívio" e uma oportunidade para alguns setores.
No entanto, a Abimaq alerta para impactos negativos significativos no setor de máquinas e equipamentos, com 25% das exportações de 2024 direcionadas aos EUA, tornando a indústria brasileira menos competitiva.
Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, manifesta preocupação com o cenário global de deterioração das relações comerciais e defende a busca de diálogo, considerando a lei da reciprocidade um sinal aos negociadores americanos. Ele apela por cautela e aguarda a implementação interna das medidas nos EUA.
Uma possível consequência das tarifas de Trump seria a aceleração do acordo Mercosul-União Europeia, embora o embaixador francês no Brasil ressalte que isso não diminuirá as resistências francesas ao tratado.