Perfil da Dengue: Pessoas mais jovens e pardas estão mais vulneráveis ao vírus na Bahia

Um levantamento do Ministério da Saúde revela que a maioria dos baianos infectados por dengue nas primeiras semanas de 2025 são jovens entre 15 e 29 anos, com predominância de pessoas que se autodeclaram pardas. Até a última quinta-feira (13), a Bahia registrou mais de 8.353 casos prováveis da doença.
O Nota Baiana entrevistou Guilherme Ribeiro, pesquisador da Fiocruz Bahia e professor da Faculdade de Medicina da UFBA, para analisar o cenário epidemiológico do estado após um ano de aumento cíclico da dengue no país.
Em fevereiro de 2024, a Bahia contabilizou 31.170 casos prováveis de dengue. Em contraste, fevereiro deste ano registrou 4.402 casos prováveis, com um coeficiente de incidência de 56,3 infectados a cada 100 mil habitantes. Ribeiro considera este período como de "baixo" potencial de transmissão do vírus, após a epidemia de 2024.
O pesquisador explica que a dengue é uma doença cíclica, com períodos de pico (epidemias) e períodos de transmissão endêmica. Ele ressalta que o padrão de transmissão do vírus e a ocorrência de epidemias variam de local para local e não são uniformes em todo o país.
Os dados do Ministério da Saúde mostram que os grupos mais afetados são: jovens de 20 a 29 anos (2.085 casos prováveis), jovens de 15 a 19 anos (917 casos) e adultos de 30 a 39 anos (1.377 casos). Ribeiro explica que a vulnerabilidade dos grupos mais jovens se deve à menor exposição prévia ao vírus e, consequentemente, à menor imunidade de grupo em comparação com os idosos, que já vivenciaram diversas epidemias ao longo da vida.
Ele destaca que pessoas com 60 anos ou mais podem ter sido expostas ao vírus da dengue em epidemias desde o fim da década de 80, o que lhes confere maior proteção. Em contrapartida, crianças e adolescentes tiveram menos tempo de exposição e, portanto, são mais suscetíveis à infecção.
Ribeiro ressalta que a transmissão da dengue é favorecida em ambientes urbanos, onde o mosquito Aedes aegypti se adapta e se reproduz melhor em recipientes artificiais de água. A alta densidade populacional nos centros urbanos, onde a maioria da população se declara preta ou parda, também contribui para a disseminação da doença.
Os dados do Ministério da Saúde mostram que 54,72% dos casos prováveis registrados este ano são em mulheres e 45,28% em homens. Quanto à raça/etnia, 63,47% dos infectados são pardos, 10,4% são brancos, 8% são pretos e 0,8% são amarelos. Apenas 0,3% são indígenas.
O professor da UFBA destaca que a proximidade entre as pessoas em áreas densamente povoadas facilita a interação do mosquito com diferentes indivíduos. Além disso, a questão socioeconômica e a falta de infraestrutura adequada, como coleta de lixo e abastecimento de água regular, também favorecem a reprodução do vetor.
Apesar das particularidades de cada estado, o cenário nacional da dengue é semelhante ao da Bahia. O país registra quase 570 mil casos prováveis, uma redução de 69,25% em relação ao mesmo período de 2024. A Bahia ocupa o 15° lugar entre as unidades federativas em relação ao coeficiente de incidência, enquanto Acre e São Paulo lideram a lista.
