Justiça da Guatemala determina que jornalista crítico ao governo volte à prisão em regime fechado

Publicado em 10/03/2025 às 23:29:49
Justiça da Guatemala determina que jornalista crítico ao governo volte à prisão em regime fechado

O jornalista guatemalteco José Rubén Zamora, de 68 anos, retornou à prisão nesta segunda-feira (10), após decisão do juiz Erick García, que acatou uma ordem superior revogando a prisão domiciliar que lhe havia sido concedida em outubro do ano passado. Zamora já havia passado mais de 800 dias encarcerado.

O caso de Zamora, acusado de chantagem, lavagem de dinheiro e tráfico de influência, é visto por organizações internacionais e governos como um ataque à liberdade de imprensa, orquestrado pelo governo anterior e seus aliados ainda presentes na Procuradoria.

Em resposta à decisão, Zamora reafirmou sua inocência e declarou que continuará a enfrentar o que chamou de "Estado mafioso" e "máfias criminosas" que manipulam a Justiça. Ele também comentou sobre a pressão sofrida pelo juiz García, que, segundo ele, foi "encurralado" pela instância superior. García, por sua vez, mencionou ter recebido ameaças relacionadas ao caso, sem dar detalhes.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) condenou a revogação da prisão domiciliar, classificando-a como um "grave exemplo de perseguição política" e um ataque à liberdade de expressão na Guatemala. A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também fez um apelo ao sistema judicial guatemalteco para que respeite o direito a um julgamento justo e pare de usar mecanismos legais para silenciar jornalistas.

Organizações de direitos humanos e veículos de imprensa consideram o caso de Zamora parte de um expurgo de juízes, advogados e jornalistas que se intensificou na Guatemala após o fim da Cicig (Comissão Internacional Contra a Impunidade da Guatemala) em 2019.

Zamora, conhecido por suas denúncias de corrupção ao longo de três décadas, foi preso após a publicação de matérias em seu jornal, El Periódico, envolvendo o então presidente Alejandro Giammattei. O jornal foi fechado em 2023, enquanto ele estava na prisão.

Em junho de 2023, ele foi condenado a seis anos de prisão por lavagem de dinheiro, mas a sentença foi anulada e um novo julgamento deverá ser realizado. Em entrevista concedida em novembro de 2024, Zamora denunciou um "golpe judicial em curso na Guatemala".

O jornalista também relatou as dificuldades enfrentadas para se defender, incluindo a prisão de quatro de seus advogados e o exílio de outros dois. Ele mencionou uma melhora em suas condições de detenção após a posse do atual presidente, Bernardo Arévalo, que permitiu que ele passasse mais tempo fora da cela.

Após a revogação da prisão domiciliar, o presidente Arévalo afirmou que a força pública não cumpriria "ordens ilegais" do Ministério Público.